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CRISTINA CEZAR

I. Sobre o autor

Cristina Cezar, escritora nascida em Vitória e radicada em São Paulo, é formada em Comunicação Social e já desenvolveu trabalhos em Teatro e Fotografia, tendo o Cinema como forte influência em seus trabalhos. Publicou seu primeiro romance, OLHO CEGO NO HORIZONTE, pela Editora Kroart / Litteris, lançado na Bienal do Rio de Janeiro em 2007 e na Livraria da Vila, em São Paulo.


II. Suas Obras


O MEIO

Tinha aquele homem parado junto à escada do hotel fechado, e um dentro no carro, do outro lado da esquina. Não sei por que associei os dois em meio à multidão, dois rostos sem mensagens ou ameaças, sem traços comuns entre eles, ou qualquer impressão dissonante do que se poderia se ver no resto da rua. E de tanto olhar para um e para outro, de novo passei batida pela floricultura. Dez passos é muita coisa para quem está atrasado. A viatura surgiu como um raio vindo da avenida. O homem do carro abriu a porta e saiu atirando em quem passava, até morrer em público. Eu estava no meio do caminho.

- Tem outro ali! Ali!

A velha gritava de dentro da igreja apontando para o rapaz escondido atrás do vaso com a orquídea ressecada. Dez passos é muito pouco. O policial correu com a arma em riste.

- Você! Sai daí!!

Mas o garoto não saiu.

- Vai, moleque!

Sou doida por orquídeas. Não foram feitas para torrar ao sol numa manhã sangrenta. E o sol estava cruel, iluminando tudo por igual e roubando as cores, deixando as imagens sem nuances, como um holofote, uma lanterna do inferno. Tentava ver o rosto escondido do rapaz, como fazia o policial confuso, sem saber o que esperar do que se punha por trás das pétalas delicadas, condenadas. Olhei de novo para o homem da escada, e desta vez era ele quem me olhava, e então pude reconhece-lo. Ele andava pelas ruas do meu bairro quando eu era uma menina, vendendo raízes e ervas de cura. Eu não conseguia compreender.

- Põe a arma no chão!!

O garoto olhou para o policial, depois para o homem na escada do hotel procurando um sinal, eu pude sentir, mesmo sem ver. Por um rabicho de segundo, me dei conta do que nos unia, todos nós ali, no meio do caminho, entre flores e estranhos.